17 de dez. de 2009

Então...

Eu tinha que voltar a escrever, por falar nisso...
Minhas linhas estão abandonadas, carentes de atenção ou desabafo.
Mas isso tudo faz parte da minha ausência de amores
Ou da minha tentativa em superá-los.
E como escrever sobre eles nunca é uma boa forma de superação,
Como remexer em coisas antigas causa espirros alérgicos,
Como ir a novos velhos lugares dá calo nos pés...
Então eu não escrevo.

1 de nov. de 2009

O causo da mariposa

Há uma mariposa irritante no meu quarto.
Que voa desnorteada de um lado para o outro e irrita por várias coisas, mas principalmente por estar ali, a cumprir seu papel de mariposa que irrita.
É de uma cor pálida, feia e quase despercebida e não desperta desejo de falar adjetivos.
Por que será que os insetos que voam são atraídos para a luz?
Por que será que os insetos feios voadores se arriscam para a luz?
Por que voam? Por que feios?
Por que luz?
Na concepção feia alada da mariposa, a luz deve ser irritante, pelo simples fato de cumprir o seu papel de coisa que ilumina.
E deve invadir o seu espaço com abuso. Assim como a mariposa no meu quarto.
E a verdade é que eu queria escrever sobre outra coisa, mas é que é muito irritante o som da mariposa se chocando o tempo todo contra a parede.
E a luz invade sem permissão todos os espaços.
Então meto o dedo no interruptor. E a partir de agora não é mais som, nem mais luz, nem mais nada.

28 de out. de 2009

Ligia

Eu nunca sonhei com você
Nunca fui ao cinema
Não gosto de samba
Não vou a Ipanema
Não gosto de chuva
Nem gosto de sol
E quando eu lhe telefonei
Desliguei, foi engano
O seu nome eu não sei
Esqueci no piano
As bobagens de amor
Que eu iria dizer
Não, Ligia, Ligia

Eu nunca quis tê-la ao meu lado
Num fim de semana
Um chope gelado
Em Copacabana
Andar pela praia até o Leblon
E quando eu me apaixonei
Não passou de ilusão
O seu nome rasguei
Fiz um samba-canção
Das mentiras de amor
Que aprendi com você
Ligia, Ligia

E quando você me envolver
Nos seus braços serenos
Eu vou me render
Mas seus olhos morenos
Me metem mais medo
Que um raio de sol
Ligia, Ligia

Tom Jobim


Interessante é parar pra pensar nas mentiras de amor que insistimos em dizer constantemente nos nosso joguinhos de sedução. Tudo porque os olhos alheios metem mais medo que um raio de sol.


Para ouvir: Tom!

20 de out. de 2009

E que chatice que é estar em intermédios.
Nem uma coisa, nem outra.
Entre. Em progresso. Pra onde não se sabe.
Parece coisa alguma, mas sempre dá em algum lugar.
E no meio de tudo isso não há borboletas no estômago, nem objeto de desejo, nem sonho pra começar o dia, nem papos estranhos e lúdicos quando não se tem o que fazer ou quando não se quer fazer o que se tem...
Não há saudade ou joguinhos de sedução.
Sobretudo não há paixão, romance ou sexo.
Falta algo quando não se tem em quem pensar, nem que seja com raiva.
Mas o presente é algo entre a resolução do último gostar, a ferida que já se curou (ou nã0) e ninguém de novo pra ocupar o espaço.
É a apatia de não ter emoção pra comentar os amores alheios e responder como quem não fuma, quando lhe oferecem um cigarro: "Não, obrigada, eu não fumo!"
- Não, obrigada, eu não amo!
Eu amo sim! Mas no momento não há quem amar. E é bem mais divertido ter o coração na mão como o refrão de um bolero.


Goiânia do tédio da cura, 28.09.09 - 01:25

2 de out. de 2009

A carta mais linda que eu já escrevi

Goiânia das causas perdidas, Brasil...

Esta é a última carta que te escrevo. Ou pelo menos conscientemente, a última que desejo escrever. E nem sei por onde começar. Mas começarei pelo adeus. Porque dizer adeus na verdadeira hora da despedida é estranho, dolorido. Então façamos antes nossa despedida. A nossa. Adeus. Até mais. Boa sorte. Qualquer coisa vejo você por aí. Pronto. Ufa! Passou! Agora que já nos despedimos, vou explicar a você porque eu estou indo. Na verdade ainda nos veremos mais muitas outras vezes e ainda nos abraçaremos naquele abraço longo onde cabem histórias de eternidade. Ainda teremos noites de aconchego e de simplicidade quando, cúmplices de nossas idéias, nos daremos as mãos e nos faremos compreensíveis a nós mesmos. Portanto não é de fato um adeus. Mas é o dia em que decidi deixar de te amar.
E se eu fosse fazer um filme deste dia, eu contaria de forma poética e iluminada de vermelho como eu desenho com minha melhor letra essas palavras. E como eu olho pra cadeira do lado e nela está escrito em tinta branca “meu bem querer”. Mas eu não faço isso, eu te escrevo uma carta. E essa eu vou te mandar. De uma forma ou de outra, ela chegará até você. Quem sabe se acompanhada das outras que guardo pra te dar, mas que eu não mando. Hoje eu vou dizer mais. Eu vou ocupar mais espaço. Talvez porque a simples idéia de preencher seja reconfortante. Ou porque não haja mais espaço em outro lugar. Não há espaço nos seus versos nem nos seus cabelos (Ah! Os seus cabelos...). Não há espaço na sua noite ou nos seus travesseiros. A sua roupa já está ocupada. Seu sorriso cheio de dentes já tem direção. Não me cabe nos seus cadernos ou nos seus filmes. Seus ouvidos já têm som. Os seus olhos dormem tranqüilos e sua pele macia está resguardada. O seu cheiro de roupa limpa paira sobre os meus dedos e o seu pescoço descansa em algum lugar.
Na minha última carta eu te confesso tudo. Te entrego meus segredos e o que desejo, porque é assim, aberta, que eu vou embora. Eu tenho vontade de acender um cigarro toda vez que te vejo. Dessa forma ele acompanharia escandaloso os meus dedos que também já não cabem nas minhas mãos e que não acham lugar quando você está por perto. Eu queria te ligar sempre que olho pra lua, sempre que vejo um filme bom, que saio pra respirar ou que como chocolate derretido. Gostaria de poder amarrar os seus olhos aos pés da mesa (ou aos meus pés, que seja) sempre que eles percorrem a multidão enquanto conversamos. E queria poder entender como eles, ainda assim, vêem tanto em mim. Eu desejo saber, ainda que só por um instante, se você pensa em mim e como me tem em pensamento. Eu queria te perguntar se é assim com todo mundo, com todas as garotas que você tem por perto, se existe um afago especial, só meu, ou se não passa de cordialidade e calor humano usual. Seria bom se me dissesse e esclarecesse se todo esse sentimento que pensei poder estar nascendo de lá pra cá realmente existiu ou se era fruto da minha mente carente e imaginativa. Já que eu falei nas garotas, eu também vou lhe dizer que eu queria que elas não existissem, ou sumissem, ou que apenas não nos vissem. Cegas e desviadas para sempre. Cabe também na minha lista de vontades te trazer para o meu mundo. Te guiar pelo meu azul, te apresentar os meus monstros e as sardinhas que tenho na pele. Concretizar com você os nossos planos listados e elaborar planos novos. E comer coisas gostosas e beber vinho a cada aniversário. Eu queria poder me casar com quem eu adoro conversar e deitar na rede pra sentir o silêncio nos ouvidos. Mas no fundo, no fundo, eu até poderia querer outras coisas, se você me quisesse. E eu desejaria que você já tivesse me beijado de novo há muito tempo atrás.
Eu queria ter tido a coragem de te dizer tudo isso de perto, te convencer. Mas é que ninguém convence o outro de coisa alguma, então eu simplesmente te conto que você adentrou espaços impossíveis, cercados, resguardados, há muito inabitados e abandonados. E não foi por falta de guardas, cercas e sentinelas. Eu bem que tentei te impedir de entrar. Mas você tem essa mania irritante de não pedir permissão e de adivinhar quando estou me armando contra você. Enfim... o que importa agora, nessa última carta, é que você está lá, acampado. E pode ir ficando, desde que não se movimente muito. Movimentos bruscos causam borboletas no estômago e o doutor disse que isso faz mal.
No fim das contas, eu vou continuar não sabendo como agir com você, pra onde dirigir meu olhar quando você chega, onde colocar as mãos quando te tenho ao lado ou como frear as batidas desse coração estúpido quando você me abraça. Na verdade, eu penso que vou continuar agindo do mesmo jeito de sempre. Fingindo que nada disso é comigo e que essas coisas não me afetam. Ah, sinceramente, nada vai mudar e já que você está acampado no meu peito eu só quero mesmo que nada mude. E que venham nossos próximos papos, encontros e abraços e a janelinha piscando no computador e o caderninho de coisas a serem feitas nunca feitas e tudo mais que cabe no cotidiano de nós dois.
É que hoje eu só queria te dizer que estou indo embora, amordaçando minhas falsas esperanças e esquecendo os meus desejos. E é só porque você não é pra mim, ou eu não sou pra você. É só por uma questão de falta de espaço, de acomodação, é só por desespero e medo. Mas se o fato de um dia eu ter me apaixonado por você não te incomodar, também a mim não incomoda. Eu te perdôo por isso e nem te odeio. Fique aí acampado o quanto quiser. E traga na memória o meu cheiro. Adeus.


28 de set. de 2009

É que sufoca
O problema não é mais quem seria
Mas a repetição.
Nas folhas caindo e seguindo e indo
Na insistência por fazer tudo igual
Mesmo quando a certeza do diferente é tão gritante
Gritante aos meus olhos, gritando meus passos
Corrigindo, cantando
E ao invés de "porque" reiterado, dar lugar à esperança anêmica
Olhos jovens a se perderem em horizontes vazios...
Na razão que leva tantas expectativas a se cansarem de esperar
Hoje é cansaço. E mais nada!

Eichstaett que aperta o peito - 31 de outubro de 2008 - 23:44

18 de set. de 2009

As manhãs é que dizem como vai ser o dia.
E hoje a manhã é fria, um friozinho gostoso, melancólico
Ela lembra você, mas você não está.
Tem gosto de geléia de tamarindo: doce e azedinha no fim.
E tem pijamas gostosos azuis e cobertas por todos os lados.
E tem uma vontade louca. louca. vontades.
Então como vai ser esse dia?
Mais um dia sem você...silêncio.


Texto escrito em: Goiânia da vontade de ter você, 03/06/09 - 11:12 hs.

11 de set. de 2009

De todos os codinomes que o meu lindo Fernando Pessoa tinha... Alberto Caeiro é o que me encanta mais! Sua percepção simples, doce e despretenciosa do mundo transmite a leveza de viver que todo ser humano deveria ter. Pelo menos eu queria. E é o que busco. Sentir as coisas somente. Ver e apreciar. Sem fazer nenhuma idéia sobre elas. Buscar menos teorias e mais ar puro nos pulmões.


A Espantosa Realidade das Cousas

"A espantosa realidade das cousas
É a minha descoberta de todos os dias.
Cada cousa é o que é.
E é difícil explicar a alguém quanto isso me alegra,
E quanto isso me basta.

Basta existir para ser completo.

Tenho escrito bastantes poemas
Hei de escrever muitos mais. Naturalmente.

Cada poema meu diz isso,
E todos os meus poemas são diferentes,
Porque cada cousa que há é uma maneira de dizer isso.

Às vezes ponho-me a olhar para uma pedra.
Não me ponho a pensar se ela sente.
Não me perco a chamar-lhe de irmã.
Mas gosto dela por ela ser uma pedra,

Gosto dela porque ela não sente nada.
Gosto dela porque ela não tem parentesco nenhum comigo.

Outras vezes oiço passar o vento,
E acho que só para ouvir passar o vento vale a pena ter nascido.

Eu não sei o que é que os outros pensarão ao ler isso;
Mas acho que isto deve estar bem porque o penso sem estorvo,
Nem idéia de outras pessoas a ouvir-me pensar;
Porque o penso sem pensamentos
Porque o digo como as minhas palavras o dizem.

Uma vez chamaram-me poeta materialista,
E eu admirei-me, porque não julgava
Que se me pudesse chamar qualquer cousa.
Eu nem sequer sou poeta: vejo.
Se o que escrevo tem valor, não sou eu que o tenho:
O valor está ali, nos meus versos.
Tudo isso é absolutamente independente da minha vontade. "

Alberto Caeiro.



"Acho tão natural que não se pense"





(Para ler: Fernando Pessoa!)

4 de set. de 2009

Eu queria ir apenas quando quisesse e sentisse vontade.
Ir quando é preciso, numa rotina desregular, me sufoca.
É o ócio o que me completa.
Comer quando se tem fome, beber quando se está com calor ou dor de cotovelo, dormir até a cama expulsar e repelir seu corpo. E ir trabalhar quando se tem vontade.
Acordar cedo só por ocasião da ansiedade ou de compromissos festivos, mas nunca com o despertador.
Se eu tive sono a tarde, me acabei de dormir. Nua e com calor. E se agora a noite o sono não me vem, mas há sempre aquela preguiça no corpo... sei lá, vou confundir a cabeça até o sono chegar.
E eu não quero ir amanhã. Porque amanhã sim, terei sono. Eu quero mais é uma vida malandra de quem é malandro. Evoluir diferente, regurgitar tendências.
Eu quero é ir a pé. Ter silêncio nos ouvidos. Abominar os palhaços e os ternos. E quando eu me estressar, eu fujo dos problemas, eu vou ao cinema, eu compro giz de cêra.
E se, ao passo disso, eu tiver sempre os meus anjos por perto, então serei feliz.

31 de ago. de 2009

Eu sou a intolerância do Jack!

Quando o tempo, mensurado, dentro de tudo o que é tido como óbvio, se torna pequeno e limitado demais, "eu sou a intolerância do Jack"!
Pessoas pequenas, pequenas limitações, cotidiano besta... nada!
E que somente seja bem vindo o que vale a pena: torta de limão, amizade verdadeira, poder ser quem você é, se sentir em casa, sorrir, pequenas coisas, coisas grandes, bunda pelada tomando banho de mangueira... um fim de semana.





(Para ver: Fight Club!)

25 de ago. de 2009

Um dia. Vários dias. Meses
Um lugar. Vários lugares. Um mundo.
curto, estreito, sem ar
Em um pequeno momento de leveza e falta de vontade
(Claro. Falta de vontade sempre. Sagradas as coisas que despertam vontade)

Mas é nesse momento onde pular um dia e viver outro se mostra importante para a dose de sanidade e o pouco sono que ainda resta.

Eu não queria viver hoje. Poderíamos escolher o melhor dia pra viver. Apenas aqueles realmente significantes que com dor ou sorrisos de queimar as bochechas são capazes de produzir lembranças.

Simplesmente porque nunca nos lembramos de tudo. de todos os dias. todas as noites. todas as palavras. as refeições. os cheiros.

Só nos lembramos dos grandes ou dos belissimamente pequenos. Os dias normais e a sua mediocridade irritante só servem pra fazer o tempo passar distante. desperdício.

E deveria ser dos direitos humanos simplesmente não existir nesses dias. Pulá-los e guardar no crédito de horas a serem vividas, esse tempo pra mais tarde. Um mais tarde que não seja simples insônia, compras de supermercado, pessoas mau humoradas, despertador, não saber o que fazer com as mãos ou em que direção olhar.

Um dia merece ser vivido. Vivido. E hoje eu escolheria não viver. Permanecer em estado de hibernação, deixar passar.

Hoje eu escolheria não fazer um boneco de neve e migrar pro mundo dos sonos tranquilos.

O momento em que se precisa pensar onde se senta, pra que direção se olha e porque um desprezo dói tanto mereceria apenas não ser vivido. Eu pularia o dia de hoje. Sentiria uma outra dor que não essa. E o pior é sentir doer e nem saber de onde vem ou porque dói. E só.