11 de set. de 2009

De todos os codinomes que o meu lindo Fernando Pessoa tinha... Alberto Caeiro é o que me encanta mais! Sua percepção simples, doce e despretenciosa do mundo transmite a leveza de viver que todo ser humano deveria ter. Pelo menos eu queria. E é o que busco. Sentir as coisas somente. Ver e apreciar. Sem fazer nenhuma idéia sobre elas. Buscar menos teorias e mais ar puro nos pulmões.


A Espantosa Realidade das Cousas

"A espantosa realidade das cousas
É a minha descoberta de todos os dias.
Cada cousa é o que é.
E é difícil explicar a alguém quanto isso me alegra,
E quanto isso me basta.

Basta existir para ser completo.

Tenho escrito bastantes poemas
Hei de escrever muitos mais. Naturalmente.

Cada poema meu diz isso,
E todos os meus poemas são diferentes,
Porque cada cousa que há é uma maneira de dizer isso.

Às vezes ponho-me a olhar para uma pedra.
Não me ponho a pensar se ela sente.
Não me perco a chamar-lhe de irmã.
Mas gosto dela por ela ser uma pedra,

Gosto dela porque ela não sente nada.
Gosto dela porque ela não tem parentesco nenhum comigo.

Outras vezes oiço passar o vento,
E acho que só para ouvir passar o vento vale a pena ter nascido.

Eu não sei o que é que os outros pensarão ao ler isso;
Mas acho que isto deve estar bem porque o penso sem estorvo,
Nem idéia de outras pessoas a ouvir-me pensar;
Porque o penso sem pensamentos
Porque o digo como as minhas palavras o dizem.

Uma vez chamaram-me poeta materialista,
E eu admirei-me, porque não julgava
Que se me pudesse chamar qualquer cousa.
Eu nem sequer sou poeta: vejo.
Se o que escrevo tem valor, não sou eu que o tenho:
O valor está ali, nos meus versos.
Tudo isso é absolutamente independente da minha vontade. "

Alberto Caeiro.



"Acho tão natural que não se pense"





(Para ler: Fernando Pessoa!)

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