30 de abr. de 2010

Eu não sei tocar

E então pego um pedaço qualquer de papel e começo a escrever.
Faço qualquer coisa.
Ainda que seja algo momentâneo,
Ainda que eu esteja subjugada.
É que observar os criativos me angustia.
E diante da minha impotência musical,
Abro meus ouvidos para as notas de ninguém
E as minhas fantasias pras falácias que me invadem.
Em um jeito de flutuar delicados sorrisos de canto de boca,
Eu permito que alguém rabisque o canto do meu papel amassado.
E assim, em uma despretenciosa noite de segunda feira
Me ponho a repensar a vida de maneira sonora.
As sonoridades evasivas e insandecidas de mundo,
Em toda a sua precisão de melodias que me divertem.
Elas se desenham como canção.
Tomam conta dos ouvidos.
Ao final dos acordes, a missão foi cumprida.
E como resquício disso tudo fica um zumbido fino
Restam os sorrisos de canto de boca
E este texto, talvez.

22 de abr. de 2010

Adiante

Estou com sono.
Bocejo comprido.
Seria um pouco de pedir arrego do mundo.
Da sensação de estar viva.
De ver o tempo passar cruel e sarcástico, olhando pras minhas cicatrizes de guerra
E pra grande ingenuidade que tenho ao usar os dias que me são permitidos viver.
E apesar do meu sono quase irreversível,
Tudo isso é doce.
Sinto prazer em todas as coisas.
Me causa gosto ver o cansaço no espelho,
os sinais da luta derradeira,
e o sarcasmo do mundo.
Estou satisfeita com o gasto,
Todas as guerras foram válidas.
Tenho na garganta uma sensação macia de quase vitória.
E já quase posso tocar meu troféu.
Mas como essas são linhas cheias de "quase",
então fico com sono.
Devo descansar os meus poros antes de seguir em frente.
Quero chegar adiante com meu cheiro de gente renovado.

4 de abr. de 2010

O velho pijama

Renovada e viúva
Sigo posta a pensar no começar de novo.
Ainda que sejam coisas velhas,
Quinquilharias de tempo e espaço.
Mas é sempre interessante repensá-las.

E com esse novo olhar de ver nas coisas antigas, novos detalhes
Eu observo o meu pijama preferido descosturado.
Vejo novos olhos maquiados no espelho.
Tenho um novo espelho, até.
Eu descubro novidades naquele velho rapaz.

Eu o desço do altar, lhe olhando nos olhos
E nesses olhos que não me são novos de observar
Vejo um brilho muito mais simples.
Vejo sangue humano nas veias,
Enxergo ambiguidade de gente.

Eu o guio pelas mãos ao meu espelho.
Ele poderá ver outras coisas na velha menina.
O quero com menos desespero,
Com a solidez das coisas reais,
Sem a avidez de sonhos de rodopiar.

Os meus olhos novos me mostraram o velho rapaz,
As suas rugas e calos,
E o meu pijama descosturado.