2 de mar. de 2010

A Receita

Às vezes, eu fico cansada do mundo.
Fico farta de estar mergulhada na sua inconsistência contraditória.
Fico com preguiça de acordar cedo pra cumprir com os protocolos do tempo.
Esse tempo maluco que poderia ser medido simplesmente pela luminosidade e calor ou sua ausência.
Mas que vira prazos neuróticos te colocando à beira do abismo. E tenho que estar sempre dentro do prazo.
Pode ser que eu não faça nada, que simplesmente não haja nada a ser feito,
Mas eu tenho que estar de corpo presente, demonstrando maturidade e produtividade aos senhores do mundo.
Ao meu superego criado e domesticado.
Tudo isso me dá sono. Me dá vontade de ter nascido planta.
Ao menos se eu fosse planta, eu não teria tanta consciência do meu estado medíocre de gente desencontrada.
Então, o mundo das neuroses me acostuma a ler mensagens rápidas,
a decodificar qualquer coisa sem ter que sentí-la.
E, mais importante e rápido que tudo isso, a seguir em frente como um veículo de carga que transporta os bens de exportação: não olha pra trás, não pára.
Ao final dessas doses de consciência absurda,
as minhas juntas foram se enrijecendo.
Foi ficando cada vez maior a minha dificuldade de dar as mãos, abraçar ou mesmo de tocar suavemente a pontinha das orelhas.
E de tanto estar estática, a minha cabeça dói,
existe qualquer coisa que não cabe mais dentro do meu peito.
Mas existe também a solução ideal!
Eles me receitam uns ansiolíticos
que vão me transformar em planta e me ajudar a não-viver.

3 comentários:

Vinfried disse...

Creio que já chegamos à conclusão do quanto é difícil viver a vida sem passar por constantes questionamentos sobre ela...

Agora, agradeça aos alemães de Eichstätt, Würzburg, München, e mais tantas outras cidades... Agradeça às Fraus Praasts, Hofmachers, Schumachers, Rezas e muitos outros...

Foi por causa deles que desenvolvemos a nossa experiente, imbatível, inconfundível e quase patenteada PFLANZ-GESICHT.

:-I (r)

Unknown disse...

É sempre bom saber que existe alguém que consegue expressar em palavras os nossos sentimentos. Creio que isso permeia o universo de muito de nós, leitores... Se isso é um caminho para o autoconhecimento e autocompreensão humana, continue a escrever, assim...
Viva a Pflanz-Gesicht e os alemães por a terem inventado...

Nós disse...

apesar de estudar jornalismo, eu não sou de muitas palavras. resumo seu texto em uma só: viva intensamente.

xêiro.