Hoje acordei descrente.
Com preguiça até de manifestar minha descrença pelo mundo.
E eu gosto das coisas aparentes
Porque elas me permitem gritar o meu descaso sufocante,
Sem que eu gaste a pouca energia que me sobra nesses dias.
Não há um motivo.
Mas tudo parece colaborar.
Meus cabelos desarranjados
Com cachos definidos de rebeldia
E cara de anos sessenta que eu adoro,
Contribuem pra que eu sustente e ostente a minha cara de pouco caso.
Minhas unhas, com esmalte vermelho descascado,
Comprovam o glamour decadente deste dia.
A péssima música de uma cantora com voz forçada e melodias medíocres toca no computador do escritório.
Lá fora chove.
Uso uma camiseta verde desengonçada
E sinto fadiga só de pensar que essa sem-graceza de dia mal começou.
Hum...
Do alto do meu sono, eu desafio o mundo a me surpreender hoje.
Mas é muito improvável que qualquer coisa nova aconteça...
... Assim como na vida dos botões das camisas
Em um dia em que ninguém vai desabotoá-los com desejo de nudez.
Mas estou aqui respirando deste ar,
Observando o não-movimento de um dia normal.
E acordei descrente.
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