20 de jan. de 2010

Da arte da reincidência

Então ele perdeu o amor que tinha por si mesmo.
Simplesmente desaprendera a se amar.
Perdeu a chance de contar estrelas,
a mediocridade de ser poeta.
Perdeu por entre os dedos a capacidade de forjar palavras e desejos e idéias.
Por um instante, quase perdera também a inspiração.

É que se lhe escapava o gosto da escova de dentes antes de dormir, também já não queria o pente nos cabelos, não quereria alinhar os seus cachos.
Ele não passava mais perfume, e deixou de prestar atenção nas unhas e nos botões da camisa que incomodavam a barriga.

De repente ele não quis mais se levantar ou mover os braços.
E por odiar com profundidade a pena telúrica das mulheres que oram, se pôs a sair dali.

Mas depois de chorar suas lágrimas arrependidas de cansaço, ele olhou para si mesmo através de seu umbigo e do que antes fosse qualquer cordão umbilical pra fora, limpou nas mangas a meleca do nariz, e afirmou:

"Ainda não desisti de mim!"

5 de jan. de 2010

Acho que Deus quando criou o mundo delegou que a maior dor fosse a de amor.
Decidiu arbitrariamente que passaríamos nossa existência padecendo em infernos pessoais e desejaríamos todos os dias a não existência depois de experimentar pela primeira vez o inferno de amar.